quinta-feira, 18 de abril de 2024

Os gastos militares, uma cara inutilidade (África)

Há vários anos que o SIPRI divulga elementos sobre os gastos militares, por parte dos estados-nação. Quase todos os estados-nação possuem essas estruturas militares, tomadas como instrumentos necessários à sua existência, perante ameaças reais, potenciais ou marcadas por um qualquer ridículo conteúdo, do ponto de vista das necessidades humanas. Essas estruturas militares apresentam-se de modo muito desigual, do ponto de vista geográfico e político, procedendo sempre a uma tradicional subtração ao rendimento produzido pelas classes trabalhadoras do país, a favor de capitalistas nacionais ou exteriores. Essas estruturas militares mostram-se em quase todos os cantos do planeta como utilizadores de poderosas indústrias militares, de instrumentos de morte, ou de dissuasão, disponíveis por parte dos Estados e dos elementos cimeiros das diversas classes políticas. Por outro lado, as estruturas militares são um pesado instrumento de hierarquização no seu próprio seio, o qual serve de montra para as empresas e, de modo mais vasto, como forma de hierarquização e submissão das populações, por parte das classes políticas, dos aparelhos repressivos dos Estados e, de certas instituições de caráter global. Dizia Hobbes que “O homem é o lobo do próprio Homem”; hoje, para mais, com instrumentos imensamente perigosos não só para o próprio Homem, como para a vida no planeta. >África< 1 - Observemos os gastos militares médios, em África, segmentados por quatro médias decenais nos períodos - 1985/94, 1995/04, 2005/14 e, 2015/22. Nos períodos em análise nem todos os países apresentam dados dos gastos militares para a totalidade dos decénios… Comecemos por analisar os países africanos, evidenciando os valores acima de $ 1000 M em todos ou, alguns dos períodos; e, ainda, quantos países se apresentam com indicadores abaixo dos $ 100 M ou, grandes variações entre os períodos considerados. Essas diferenciações no contexto nacional, podem também ser evidenciados enquanto valores médios per capita, como se evidencia na última coluna do quadro. $ MILHÕES Custo percapita $ ÁFRICA 1985/94 1995/04 2005/14 2015/22 2022 África do Sul 3529.8 2307.5 3876.1 3362.3 56.7 Angola 1315.4 500.1 3606.5 2060.9 55.7 Argélia 1029.5 1925,9 6395.3 9819.6 223.7 Benin - - 68.9 88.9 7.3 Botswana 170.4 205.1 321.7 494.8 206.2 Burkina Faso 56.9 42.6 125.2 319.4 15.3 Burundi 41.9 49.3 52.3 73.0 6.1 Cabo Verde 3.9 6.5 10.0 10.2 17.0 Camarões 153.1 143.4 331.7 406.9 15.4 Rep. Centro Afric. 18.7 15.1 36.9 36.8 7.7 Chade 42.9 50.5 484.7 281.1 17.1 Congo, Rep. Dem 118.1 99.7 232.9 358.7 4.0 Congo. Republ. 85.8 270.5 292.9 53.3 Costa do Marfim 122.4 165.0 373.4 583.7 22.1 Djibouti 31.3 29.9 Egipto 2862.8 2427.1 3959.0 4241.8 Eritreia 181.7 Eswatini (1) 14.1 27.0 78.9 82.3 68.6 Etiópia 462.4 348.3 353.8 565.4 4.5 Gabão 252.7 114.8 Gâmbia 2.4 3.1 8.8 10.8 4,0 Ghana 37.8 48.5 170,0 220.1 7.1 Guiné 54.3 67.7 187.6 231.6 17.7 Guiné-Bissau 4.8 19.3 21.2 10.6 Guiné Equatorial 149.1 106.5 Lesotho 20.0 28.6 46.1 34.7 20.5 Libéria 26.8 9.1 14.4 2.8 Madagascar 36.2 52.2 70.3 77.4 2.8 Malawi 22.5 16.1 46.7 66.8 3.5 Mali 41.5 48.7 140.9 481.4 23.7 Marrocos 951.5 1450,0 3059.4 4084.9 110.7 Mauritânia 38.8 35.8 116.9 173.6 37,7 Maurícia 7.4 10.3 15.6 20.7 15.9 Moçambique 89.4 51.4 104.5 208.5 6.7 Namíbia 110.7 97.7 336.5 425.9 170.3 Niger 22.1 86.3 190.9 7.9 Nigéria 355.6 686.5 1701.1 2432.1 10.9 Quénia 187.4 190.0 613.4 1058.4 19.7 Ruanda 59.5 63.1 70.1 132.8 10.2 Senegal 97.9 79.5 199.7 353.7 21.2 Seychelles 13.0 11.6 13.5 24.1 241.2 Serra Leoa 15.4 21.2 29.1 30.9 3.9 Somália 78.6 4.9 Sudão 484.0 413.1 2330,0 1784.4 40.6 Sudão do Sul 846.8 302.0 27.0 Tanzânia 140.8 124.7 276.7 638.9 10.7 Togo 39.9 30.3 63.8 151.8 18.3 Tunísia 223.9 368.7 623.5 1029.4 90.3 Uganda 104.7 148.4 348.6 625.2 13.7 Zâmbia 62.9 58.2 283.7 304.7 16.6 Zimbabwe 318.6 268.0 321.1 344.6 21.4 Nota – Sublinhado em amarelo - situações com valores inferiores a $ 100 M; em roxo as situações com $ 100 M /$ 1000 M; os restantes apresentam gastos superiores a $ 1000 M (1) Eswatini - Suazilândia No período mais recuado e, com valores mais elevados (acima de $ 1000), sobressaem em 1985/94 - África do Sul, Egito, Angola e Argélia. No período seguinte, os protagonistas mantêm-se, com o Egito na frente mas surgindo Marrocos na terceira posição, no lugar antes ocupado pela Argélia. Nos dois últimos períodos a situação alterou-se substancialmente, pelo volume das transações efetuadas, como também pelo número de países em presença; Quénia e Tunísia apresentam-se pela primeira vez na lista dos principais países compradores de armamento. A Argélia situa-se no primeiro posto com um volume muito acima do registado pelos países mais próximos ($ 6400 e $ 9800), respetivamente, nos períodos 2005/2015 e 2015/22). A capitação de material militar no conjunto dos países africanos é bizarra. Por um lado, os maiores gastadores per capita, são as Seychelles ($ 241.2), a Argélia ($ 223.7) e o Botswana ($ 206.2). Abaixo desses valores de capitação regista-se um vasto número de países (17) com uma capitação de gastos militares inferior $ 10. Este e outros textos em: http://grazia-tanta.blogspot.com/ https://pt.scribd.com/uploads http://www.slideshare.net/durgarrai/documents 18-04-2024

sábado, 30 de março de 2024

A lixeira beneditina

 

A lixeira beneditina

Ei-los que partem, novos e velhos, buscar a sorte noutras paragens, de quatro em quatro anos; excepto quando o tinir das espadas obriga a fradesca remodelação, a chamada eleição, na qual nada muda de substantivo após ardente pugna na sagrado solo da lixeira; onde, por regra, não surge purga. A lixeira beneditina acolhe-os, engravatados, com direito a lugar cativo na missa diária, superiormente dirigidos por uma qualquer figura baça, cinzenta, decadente, como um conhecido traste que mandou polícias armados para defender – sem causa real - a embaixada num país distante.

Na sua maioria, trata-se de 230 paroquianos, deslocados do torrão natal, cuja sorte os destinou a rumarem à lixeira beneditina, para assumirem a suprema honra de chafurdar em prato alheio e servirem-se de inerente e vazia prestação de serviços, realizada por dezenas de serviçais. 

 

Vindos de todos os cantos da paróquia, os trastes apresentam-se, diariamente na lixeira beneditina, como uma baixa nobreza com direitos especiais, vigentes pelo menos, no âmbito de tráfico de influências. Durante quatro anos, espremem-se para ganhar relações sociais; bem como a conveniente atenção no momento de aprovação ou rejeição de propostas vindas da elite fradesca.

Com lugar cativo nas cultas vernissages televisivas, a elite frequentadora da lixeira beneditina presta-se, em tempos de carnaval eleitoral a uma luta árdua, resultante da existência de vários candidatos à gamela. Cada luso comum embebeda-se diariamente com cinco horas de imbecilidades televisivas; e, assim se consolida a homogeneização do tosco discurso vigente no seio da classe política. É um país com menos cultura ou rendimentos que se apresenta nos lugares mais baixos da hierarquia das nações europeias.

Cinzentos e engravatados, os frequentadores do grande edifício beneditino, na sua maioria, dedicam-se a permanecer com o traseiro colado à cadeira, à espera das palavras do fuhrer partidário para o ritual aplauso; ou, que um magnata paroquial, num lauto almoço, acene discretamente com um molho de notas, para a obtenção de algum favor.

Na versão mais lustrosa, a sorte chega à lixeira beneditina, sob a forma de ratazanas de pelo lustroso, prontas a ornar o bando de aves de rapina; isto é,  os chamados empresários e respetivos intermediários no acesso ao pote.

À entrada na lixeira beneditina, ei-los que chegam, bem enfarpelados para cumprir o ritual de nada dizerem de útil ou interessante. E, menos ainda, de possuírem qualquer laivo de criatividade; esperam as disposições legais da paróquia, mormente nascidas e apuradas na própria lixeira beneditina para, passados poucos anos de reverência, com o braço em baixo ou em cima, darem seguimento às solicitações dos magnatas da sua própria paróquia.

Há quem chame ao regime político emanado da beneditina lixeira, “democracia burguesa”. As burguesias tendem a gostar do empreendedorismo; porém, nunca se viu o país tão paralisado pelo baixo nível de investimento útil. E, claro que não é só no SNS; o PRR vai coxo, mas vai distribuir o dinheiro, enquanto os reformados se acomodam como podem, perante os seus estagnados rendimentos. Três em quatro famílias têm dificuldade em pagar os seus encargos.

A publicação da “Visual Capitalist” hierarquiza os países do mundo com a designação de “A Map of Global Happiness By Country in 2024” (https://www.visualcapitalist.com/a-map-of-global-happiness-by-country-in-2024/)

Entre os primeiros lugares situam-se, Finlândia, Dinamarca, Islândia, Suécia, Holanda, Noruega, Luxemburgo e Suíça com indicadores entre 7.3 e 7.1. Nessa escala mas muito mais abaixo, Portugal evidencia-se em 55º lugar com um indicador de 6.0, a par com a Hungria; todos os outros países europeus, com indicadores inferiores, situam-se no Leste.

Este e outros textos em:

GRAZIA  TANTA

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quarta-feira, 6 de março de 2024

Os níveis do custo da mão-de-obra na UE

  

Pretende-se com estes dados proceder a uma avaliação dos custos do trabalho entre os países da UE, para o período 2008/22.

Para o conjunto daqueles países, nada evidencia uma harmonização, uma aproximação entre os países mais ricos e os mais pobres; isto é, trata-se de uma “união” que pouco tem de União, dominando, desde o início da UE, uma diversidade acentuada para os níveis do “custo da mão-de-obra”. Aliás, a continuidade dessa designação, mantém uma segmentação social que se mantém, há mais de cem anos, em prejuízo dos trabalhadores com salários mais baixos e, maiores obrigações, por parte dos governos e das camadas possidentes.

As loas tecidas pelas classes políticas nacionais sobre a harmonização comunitária representam, na realidade, a integração das hierarquias nacionais e respetivos poderes comerciais e financeiros; e menos, os respetivos poderes políticos nacionais. O modo como as classes políticas europeias assumiram a sua subalternidade perante os EUA na questão da Ucrânia, é bem patente; ficou claro que a questão ucraniana é um negócio de cariz geopolítico e não algo em que a Europa apresente qualquer papel de liderança.

 A Europa continua a ser um palco de desigualdades, num contexto geográfico restrito, no seio de um poder comercial e financeiro essencialmente regional. E que se eleva no âmbito político e económico quando os EUA evidenciam o seu papel soberano global perante as duas grandes potências – China e Rússia.

Decidimos observar, a partir de dados do Eurostat – a estrutura de custos com o trabalho assalariado – para a grande maioria dos países europeus, mormente dos que se inserem na UE. Uma sumária observação dos custos da mão-de-obra mostra uma realidade muito diversa, em nada relacionada com as loas tecidas no sentido de uma homogeneização dos estados europeus. Pelo contrário, as enormes diferenças verificadas frisam precisamente manter as desigualdades e o estabelecimento de uma hierarquia que estabelece diferenciados níveis de riqueza, de salários, de níveis de vida. A própria UE que há muitos anos se apresentava como instrumento de homogeneização dos níveis de vida dos povos europeus, falhou completamente nesse propósito, mantendo-se a colonização económica dos pobres pelos ricos e, uma enorme diferenciação dos níveis de vida.

1 - Em 2022, os valores diários mais elevados para o preço do trabalho (superiores a € 40) evidenciam-se nos seguintes países (em €):

·           Noruega – 55.6, Luxemburgo – 50.7, Islândia – 48.4, Dinamarca - 46.8, Bélgica – 43.5, França – 40.8, Países Baixos – 40.5, Suécia – 40.1.

2 - As situações em que aqueles custos se mostram com valores entre os € 20/40 encontram-se nos países que se registam em seguida:

·           Alemanha – 39.5, Áustria – 39.0, Irlanda – 37.9, Finlândia – 35.9, Zona euro – 34.3, UE – 30.5, Itália – 29.4, Espanha – 23.5, Eslovénia – 23.1.

Os dados apurados permitem que se proceda a algumas equiparações, reveladoras das diferenciações relativas aos preços do trabalho. Assim, os custos na Noruega aproximam-se do dobro dos apurados na Itália e, os preços do trabalho na Dinamarca, duplicam os vigentes em Espanha ou na Eslovénia.

3 - São também numerosos os países com indicadores no intervalo € 10 – 20.

·           Chipre – 19.4, Rep. Checa – 16.4, Estónia – 16.4, Portugal – 16.1, Eslováquia – 15.6, Grécia – 14.5, Malta – 14,0, Lituânia – 13.1, Polónia – 12.5, Letónia – 12.2, Croácia – 12.1, Hungria – 10.

Neste grupo de países, Chipre apresenta custos do trabalho correspondentes a metade dos apurados na Alemanha ou na Áustria; e, no Luxemburgo o custo da mão-de-obra é cinco vezes superior ao vigente na Hungria (€ 10). No caso específico de Portugal, os custos da mão-de-obra são mais de três vezes inferiores aos vigentes na Noruega ou no Luxemburgo.

4 - Finalmente, os países com indicadores inferiores a € 10, são:

·          Roménia – 9.5, Sérvia – 8.8, Bulgária – 8.2

Pautando-se os custos do trabalho nos países balcânicos atrás citados cerca de sete vezes inferiores ao da Noruega, por exemplo,

Observem-se de seguida, as diferenciações registadas no período referido. Como se verá, as variações no período para os custos da mão-de-obra, revelam que a variação em 2008/12 para os países mais ricos se distingue, claramente, da observada para os mais pobres. Vejamos adiante a comparação daquelas variações.

Os países mais ricos, que apresentam custos de mão-de-obra mais elevados, são também aqueles onde o aumento da sua riqueza, no período considerado, é mais elevado. Os maiores acréscimos dos custos de mão-de-obra, no período considerado (2008/12) são; Bélgica + € 10.6; Dinamarca + € 12.2; Alemanha + € 11.6; França + € 9.6; Luxemburgo + € 18.4; Países Baixos + € 10.7; Áustria + € 12.6; Islândia + € 26.5 – que ultrapassam os valores totais dos custos da mão-de-obra vigente em vários países de menor riqueza.

Para os países menos ricos ou… mais pobres, o incremento de valores para o preço do trabalho é menor, como são mais baixos os próprios custos registados da  mão-de-obra. Assim, para os países menos ricos, os custos com a mão-de-obra apresentam os seguintes valores para 2008 e 2022, respectivamente. Para além dos elementos incluídos no quadro que se segue, evidencia-se a redução observada na Grécia e, mostra-se a situação portuguesa com uma muito baixa evolução - € 12.2 em 2008 e € 16.1 em 2022.

 

2008

2022

Variação.

Bulgária

2,6

8,2

5,6

Rep. Checa

9,2

16,4

7,2

Estónia

7,9

16,4

8,5

Grécia

16.8

14,5

-2,3

Croácia

9.2

12,1

2,9

Letónia

5.9

12,2

3,0

Lituânia

5.9

13,3

7,4

Hungria

7.8

10,7

2,9

Malta

11.4

14,0

2,6

Polónia

7.6

12,5

4,9

Roménia

4.2

9,5

5,3

Eslováquia

7.0

15,6

8,6

Sérvia

5.1  (2012)

8,8

3,7

 

Acrescentamos ainda alguns casos de parca evolução dos custos de mão-de-obra – Espanha 4.1%; Itália 4.2%; Chipre 2.7%; Portugal 3.9%, entre outros.

Para terminar, sublinhamos os casos mais marcantes na variação anual (2008/22) – Islândia (1.89%), Luxemburgo (1.31%), Áustria (0.90%), Dinamarca (0.87%), Alemanha (0.83%), Bélgica e Países Baixos (0.76%). Inversamente e, no mesmo período, referem-se casos de situações de redução no mesmo período – Grécia (-0.16%), Noruega (-0.08%) e Turquia (-0.15%).

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